Em observação, no BRT - 11
Hoje é sábado. São 08:18.
Estou no BRT 21A, sentada.
Ao meu lado direito, uma janela fechada. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, uma mulher sentada. Ela é branca.
- Oi? Por que? Ah é? Ah tá. Alvorada agora? Vinte e quatro horas. O que? Hoje eu fiquei sem. Eu sei que tenho que ir no cabeleireiro. Não tem estresse.
Ela fala ao celular. Tem o cabelo castanho claro preso em um coque. Veste uma blusa branca. Carrega uma sacola preta.
- Alô. Alô?
Usa brincos de argola douradas. Larga o celular
- Vou pra casa. Pra minha casa.
Coloca o celular na orelha. Tira o celular. Coloca na orelha. Tira o celular da orelha. Coloca o celular na orelha.
- Não gosto não. Aí perde tudo.
Tira o celular da orelha. Põe o celular na orelha.
Seu cabelo tem caspa. Tem uma tatuagem na nuca de uma mulher. Tosse.
- Hoje? Eles foram pra lá? Quem falou? Ela vai? Ah não vai não. Ela vai? Eles convidaram ela? Bom dia. Eu gostaria que me enviassem porque eu não tou conseguindo pagar com código de barras. Por favor. Código de barras. 16609408. Mary Mello com dois L. Será que vai demorar? Porque no aplicativo não tá batendo. E se não tiver batendo, faço o que? Tá. Não. Não.
Tira o celular da orelha.
- Tá onde? Pra casa? E daí? E daí? Ela quem?
Tosse.
- Perguntou o que? Vai amanhã? Seu celular? Qual? Você vai embora amanhã. Qual o celular que não tá funcionando? Ah tá.
Tosse.
Uma mulher senta ao meu lado esquerdo.
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