Em observação, no ônibus - 282

Hoje é quarta-feira. São 09h48.

Estou no ônibus 415, sentada.

- Essa é a notícia boa, se ele quiser ir. Sim. Não. Você vê una coisa, né? É. Deu trinta reais. Ah bom.

Ao meu lado direito, uma janela fechada.

- Quer saber o negócio?

Ao meu lado esquerdo, um banco vazio.

- Ele não. Não sei.

Na minha frente, uma mulher sentada. Ela conversa com a mulher sentada ao seu lado esquerdo. Ela é negra.

- Sabe o quê? Não dá não. Embora não vai.

A mulher sentada na minha frente é magra. Tem o cabelo preto, ondulado. Olha pra fora da janela.

- Cachorro. Das pessoas acharem. Eu achar que era ele. Da mãe dele. Eu gostava muito da Isabela. Ele tá indo lá. Uma vez. Interesse. E isso ai é a Isabela. É a Isabela. De presente. Que que isso tá desse jeito, cheio? Eu vou sexta feira. Sexta feira ou amanhã. Ele falou que vai liberar pra mim. Tem três ano. Ele falou que tá lá pra eu ver pra mim pagar. É o INPS. É banheiro. Que eles estão fazendo. Subindo.

O celular bipa. Direct da Cláudia. Bipa novamente. Workchat da Recepção.

A mulher sentada na minha frente tem a mão na boca e olha pra fora da janela. Usa um anel de prata com uma pedra azul na mão direita. Usa brincos prateados.

- Eles são. Funcionários. É. Aqui.

O celular bipa. Notificação da agenda. Bipa novamente. Workchat do Felipe. Bipa novamente. Workchat da Recepção. Bipa novamente. Workchat do Fellipe.

- De meio dia. De uma hora. É bom. Quando a gente vê, vai demorar muito.

O celular bipa. WhatsApp do José Ricardo.

- O primeiro exame saia na hora, né? Agora não.

O celular bipa. WhatsApp do João Victor.

- Não sei. Vai?

O celular bipa. Despertador que toca. Bipa novamente. Notificação da agenda.

- Felipe. Tem tudo que você quiser nessa loja. Pulseira, cordão. Tem até barbante. Jaqueline uma só. Comprou bem aqui. Várias coisa. Um mundo né?