Matheus

O trajeto era curto: Flamengo - Cardeal Arco Verde. Ainda assim, eu lia no caminho. E nas escadas rolantes. E, dependendo do que estava sendo lido - e estava em Rubem - lia andando. 

Desta vez, saltei do metrô, na minha estação, e fechei o livro, não sabia bem por quê.

Vim andando vagarosamente e vi, de longe, uma senhora e um pequeno que, descobri, tinha cinco. 

As pessoas subiam a escada rolante, em direção a saída da estação, e a senhora, cada vez mais, sozinha com o pequeno. 

- Oi, bom dia.

- Bom dia.

- A senhora pode subir com ele? Eu tenho medo. Porque eu vou, mas eu tenho medo, por ele. Ele é pequeno.

- Oi, tudo bem? Dá a mão para mim? Vamos juntos?

Matheus me olhou, sério, e deu a mão, bem pequena. Olhava para os meus pés e os seus pés, subindo e parados na escada rolante, que subia.

Chegamos ao destino.

- Obrigada!

- De nada! Mas eu acompanho vocês, ainda têm outras duas escadas rolantes, e eu ajudo a senhora.

- Ah, tá. Muito obrigada.

Matheus, mesmo no trajeto onde não tinha escada rolante, não soltava minha mão. 

- Qual o seu nome?

- Matheus. - respondeu sério e tímido, de forma com a qual eu não podia, sequer, ouvi-lo.

- Ele é meu neto, sabe? Eu tinha compromisso aqui em Copacabana. Em geral, ele fica com a mãe, mas ela começou a trabalhar, e o pai dele - que é meu filho - não pode ficar com ele, porque ele tem emprego fixo. E eles não conseguiram alguém pra ficar com esse garoto, e aí, ele tem ficado comigo. Mas aí, agora, que eu tenho compromisso, tive que trazer, né? E criança dá trabalho. É um problema, né não? E aí, eu fico preocupada com essa escada rolante e, de subir com ele...

- Matheus, de novo, olha a escada. Vamos juntos?

E eu não conseguia mais ouvir a senhora falando do "garoto", "esse menino". Ele sequer olhava a avó. Sequer olhava para mim. Era um menino sério, atento, que olhava para seus próprios pés. Era o mais pra baixo que ele conseguia olhar: seus pés. Meus pés, quando subíamos na escada.

- Vamos, Matheus? Na última.

E eu percebi, ao longo do trajeto que, ainda que a avó falasse sem parar, e o pequeno só abriu a boca para falar seu próprio nome, eu e ele, sim, estávamos nos comunicando, o tempo todo. Através de seus dedos finos. Através dos nossos pés, pelo mesmo caminho. 

- Chegamos. Tchau, Matheus. Bom passeio.

- Obrigado. Muito obrigado.

Matheus me olhou nos olhos. Triste, sincera e profundamente. E o seu "obrigado. Muito obrigado" aqueceu meu coração. 

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