O dia da gratidão

Hoje foi aquele dia de acordar às 6h. Mas você gosta de colocar a soneca pra cinco-minutos-depois. E foi assim, de cinco-em-cinco-minutos até 6h30.

Banho, café da manhã, médico. O médico era Dra. Elda (endocrinologista) e Aline (a nutricionista).

A dra. Elda é mais fechadona, mais na dela, mas muito simpática, educada e ótima profissional. 

Já a Aline me chama de menina-Skiny.[Antes de perder peso, eu comia Skiny. Muito Skiny].
- Você tem isso na minha ficha, do Skiny?
- Não, eu me lembro.
- Mas já se foram dois anos.
- Mas eu me lembro.
- Por que?
- Porque eu gosto de você.
E aí aquela consulta deliciosa, com a melhor nutricionista que eu poderia ter, acontece normalmente...

- Quer dizer então que você vai casar... me conta isso aí?
Aí aquela coisa de abrir o celular, mostrar a foto do namorado, da enteada, etc.

- Eu não conheço seu futuro marido, mas diz pra ele que ele está te fazendo muito bem. Você está mais serena, falando mais devagar, mais tranquila...

Enfim. Revimos a dieta, os exames, a suplementação de vitaminas, proteína, etc.
E nos vemos daqui a seis meses.

O dia teve seu "momento feliz" parte 1.

Não eram 10h e mandei mensagem pra Guta:
"Amiga, posso ir te visitar? Me avisa. Beijo".

Ela não respondeu e eu fui pro Espaço da Mulher. Lá eu faço um trabalho (quase-nem-sempre) voluntário. E é o momento que eu tenho pra ficar quieta. Sem internet. Sem som. Sem nada. Só eu, o silêncio, os livros. Os possíveis pacientes que chegam. E os velhinhos, que acham que ali é a Defensoria Pública. 

Logo na entrada do Espaço, temos um pequeno brechó, com roupas, sapatos, e etcs. Nós doamos, as pessoas doam, e a gente vende as coisas (por um preço mais do que acessível) pra ajudar a manter o Espaço. 

Dona Graça, por exemplo, vem todas as quintas-feiras (dia do meu plantão) e compra alguma coisa pra ela, e me entrega as moedas contadas. É empregada doméstica do prédio em frente. Nos tratamos pelo nome e, ainda bem, ela não anda uniformizada-fantasiada. Ela vê quando chego pela janela e vem, lá, me dar bom-dia, e comprar as coisinhas dela.

Hoje uma senhora bateu à porta. Falava português muito mal (era americana), mas eu conseguia entender seu português americanizado.
Ela explicou: "tenho um carrinho de bebê, duplo, para um bebê maior na frente, e um menor, atrás; não é aqueles de gêmeos, de lado; é um na frente e um atrás. Vocês querem? Estamos voltando para os EUA e não precisamos do carrinho mais".

Cláudia, expliquei, nós aqui recebemos doações, para vender e manter o Espaço. Não podemos comprar seu carrinho.

Mas é doação. Estou dando para vocês.

Aceitamos, portanto, e ficamos muito agradecidas. Foi o "momento feliz" parte 2, do dia. Que mal estava começando.

Uma-moça-doando-um-carrinho-assim-desapegadamente. Nunca me viu. Eu nunca a vi. 

Resolvi ligar pra Albinha, minha parceira de trabalho e, logo no início da ligação, ouço que ela estava pensando em mim, já desde cedo (eu também nela) e conversamos longamente. Foi a parte 3 de alegria do dia.

A amiga respondeu a mensagem tardiamente e fui vê-la, junto com a Ana Flávia, sua neném de dezesseis-dias. DEZESSEIS DIAS.

Comprei uma bobagenzinha pra neném, porque não sei visitar sem levar nada... 

Então tá. Cheguei. E estava lá a amiga com a neném-mini deitada sobre ela. Aninhada no seu colo. Ficamos conversando - eu e Guta - com a neném ali, dormindo. Tudo sob os olhares, e lambidas, e chamegos dos cães Theo e Willy. 

E eu fiquei encantada com várias coisas:
- Deu uma saudades do meu (nosso) pré-vestibular, onde conheci a Guta. 
- Deu uma saudades de passear com ela, de carro, até São Conrado, só pra tomar um picolé.
- Deu uma alegria e um amor tão grande, mas tão, de ver a amiga querida sendo mãe e se emocionando ao falar da sua neném.
- Deu uma alegria enorme de ver ela falando COM a filha que, apesar de mini, é uma ser humana, como gente, sem tati-bitati.
- E a neném, com expressões tantas? Sobrancelha, boca, dedos das mãos, dos pés, pernas.

Saí da casa delas com uma vontade grande de chorar e agradecida de ver a preciosidade da vida, de mãe-e-filha. Dessa coisa divina que é a maternidade. 

Se eu falar que este foi o momento feliz parte 3 do dia... eu poderia dizer que foi parte 3.000...

Agora, com a Ataulfo de Paiva fechada, os ônibus vão pela praia. Fui pra lá, pegar o meu em direção à Copacabana. E, a vista da praia, do morro, do céu, do sol, faz meu dia ser feliz parte 4.

Eram 14h, e pra mim o dia já estava suficientemente feliz. 

Saltei em Copacabana, comi-um-qualquer-coisa e fui pra academia, suar o corpo um pouco. Momento feliz parte 5.

Sem dores, fui pra casa e trabalhei, até quase 19h. 

E o namorado ligou. E os amigos no whatsapp. E as interações-filosóficas no Facebook (com Renato e Rafa).

E as coisas que aconteceram (e acontecem) no meu dia, assim, tudo tão comum e tão inusitado só me fazem ser muito grata.

Grata à vida.
Grata aos amigos que tenho.
Grata à Aline pelo carinho e profissionalismo e por me ensinar a me alimentar.
Grata à Cláudia pelo futuro-carrinho que o Espaço da Mulher vai ganhar.
Grata à Alba pelo que me ensina.
Grata à Guta e à Ana Flávia pela tarde tão emocionante e deliciosa. Por testemunhar um amor tão grande entre elas que... caramba...
Grata ao André (e à Hanna) pelo amor que sentem por mim, e pelo que sinto por eles.
Grata ao Renato e Rafael pelas discussões, e risadas, e reflexões, ainda que virtuais.

Hoje, definitivamente, eu vou dormir feliz. Muito feliz.

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