Em observação, na Polícia Federal - 2

Hoje é segunda-feira. São 9h07.

Estou na Polícia Federal de Nova Iguaçu, sentada na recepção, esperando o atendimento.

Ao meu lado direito, um muro. Na minha frente, pessoas passam. Ao meu lado esquerdo, uma moça está sentada. É mulata, magra. Veste calça jeans, blusa branca, tênis bege e uma bolsa bege no colo. Tem o cabelo comprido, lido, preso num rabo de cavalo. Fala no celular.

- Não entendi. Tá bom. Vou pensar, se eu não tiver que trabalho hoje à noite, eu vou começar um cabelo hoje à noite e terminar amanhã. Tá, eu te ligo. Beijinho, tchau.

Ela desliga o celular. O celular toca. Ela está sentada, de pernas cruzadas. Fala com o rapaz ao seu lado direito. Mexe no celular, no seu colo.

- Documento. Uhum. Marquei. Oito e quarenta e cinco. Não. Eu cheguei uns cinco minutos atrasada. E tinha um senhor aqui. Um documento. A certidão de... Não. Não tem. Então, é aquele. Eu não trouxe, eu não sei aonde está.

Ela levanta-se. Ao meu lado esquerdo, agora, está vazio.

Eu levanto e vou ao balcão. Volto e sento ao lado da moça. Ela está de pernas cruzadas, com o celular na mão, olhando para a frente. Olha para o seu lado esquerdo. Mexe no cabelo. Abre a bolsa e olha algumas coisas dentro. Coça o nariz. Olha para a esquerda. Mexe no cabelo. Olha para a frente. Olha para a esquerda. Levanta e sai.

Agora, o meu lado esquerdo está vazio.

Uma senhora senta ao meu lado esquerdo, com um neném (menino) no colo. Ela é loira, alta, gordinha. Veste calça branca, e blusa social preta e branca. O neném, no seu colo, veste calça jeans azul escura, blusa azul e branca.

- Senta assim, isso.

Ela alimenta o neném.

- Não, meu amor. Ele tá com fominha, deixa a mamãe dar. Quando chegar em casa, a mamãe deixa você dar, tá?

Ela alimenta o neném com papinha.

- Oh pai, eu já dei os papéis pra moça. Isso. Quem pegou foi a moça, que nos atendeu da outra vez. É.

Agora, meu pai está em pé, ao meu lado direito. Ele é branco, alto, magro. Tem o cabelo branco, liso, e usa óculos. Veste um terno cinza escuro e sapatos pretos.

- Não, já acabou esse.

A mãe, ao meu lado esquerdo, continua alimentando o neném.

- Tá comendo? O que você comeu? O coelhinho? Não tem o lanche... Opa... Não, bebê, tá tudo bem. Vamos papar, gostoso. Isso. Isso. Não quer mais? Não? Não quer mais? Aqui, abre o bocão pra mamãe. Isso. Muito bom. Mais um pouquinho. Aqui, Miguel, amor, amor de vida... Opa.

O neném tosse.

- Opa, opa.

Um senhor passa na minha frente.

- Não quer mais? Não? Aqui, mamãezinha... Isso. Marco.

A mãe bate a colherzinha no pote de comida.

- Tá gostoso, filho? Ta aqui, ó. Tá aqui na frente, no estojinho. Isso, garoto. Tem que pegar outro, se não, vai molhar tudo. Só com a mamadeira. Aqui, Miguel. Engole, Miguel. Vambora. Ela já vem buscar. Pára. Tá tudo bem.

Meu pai tosse.

A moça se levanta.

- Tchau, bom dia.

- Tchau, bom dia também.

Meu pai, agora, senta ao meu lado esquerdo. Olha para a frente. Cruza as pernas.

Um senhor passa na minha frente.

- Senta pra cá que não tem sol na tela.

Eu e meu pai trocamos de lugar. Ele continua sentado ao meu lado esquerdo, de pernas cruzadas, olhando para a frente.

Um senhor passa na minha frente.

Meu pai estica o braço e olha as horas

Um senhor, uma senhora e duas crianças passam na minha frente. Todos orientais (japoneses?).

Um senhor passa na minha frente.

Um senhor passa na minha frente. É negro, alto, magro.

Fui chamada. 

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